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[ carta aberta ]

Todas as vezes que escrevi sobre a minha relação com o Pedro, eu usei da poesia para para falar de todas as dificuldades da nossa relação e eu busquei poesia para servir de escudo todas as vezes que eu quis ir embora e finitar a nossa relação.

Dizem que os casais que passam dos três anos de calabouço, se reconhecem e permanecem juntos para sempre, mas nunca foi uma questão do quanto ainda duraríamos, sempre foi uma questão do quanto ainda suportaríamos um ao outro por amor a relação.

Acontece que os amores amadurecem e com o amadurecimento dos anos e o cansaço dos dias e brigas surge também a desistência e é complicado lidar com a desistência, uma parte de nós quer continuar na relação e lutar para fazer dar certo, a outra já desistiu porque dói demais esse esforço sobre-humano para fazer qualquer coisa funcionar.

Em primeira instância pensei que havíamos acabado e doeu profundamente em mim.

As lágrimas de tanto que caírem, perfuraram o meu coração ou colchão, então eu não pensei em reconquistá-lo, não pensei em forçá-lo a ficar, ele estava livre de mim!

E eu estava livre dele.

Talvez seja isso que as relações fazem conosco, elas nos libertam e a gente fica tão feliz com essa liberdade, que se aprisiona a ela, passa a respirar essa liberdade até se tornar dependente dessa tal liberdade, mas a liberdade é uma coisa muito doida, ela não tem raiz, ela não tem um pedaço de metal, madeira ou papel, ela é como o ar.

Sim, isso é uma explicação pra criança, porque eu precisei explicar que as minhas correntes não tinham onde serem colocadas, só havia espaço, só havia sentir (muito).

Não havia um corpo me segurando para que eu simulasse qualquer ataque de me deixe ir, não havia se quer portas que pudessem ser fechadas.

Quando eu me dei conta disso eu fiquei num estado de pânico absoluto, até que o Pedro me abraçou forte e me olhou mais demoradamente como quem decifra milhares de coisas da minha mente num estalar de segundo.

Sorriu e disse "Vamos".

Quando perguntei o que tinha acontecido, onde tínhamos nos perdido e perguntei por que haviam tantas brigas, tantos desentendimentos e tantas rupturas.

Quando perguntei por que ele ainda estava ali, porque ele ainda queria continuar...

Ele não soube responder, sorriu novamente e disse "vamos".

Eu não queria ir até saber para onde estávamos indo, queria uma coisa concreta, queria saber se éramos pra sempre ou se devíamos romper ali.

Ele me olhou mais demoradamente e me perguntou se eu queria romper ali ou se eu sabia para onde iríamos e eu disse que não.

Foi então que ele segurou a minha mão bem forte e não foi como acorrentar a minha liberdade, foi como ser livre comigo e disse:

"VAMOS DESCOBRIR!"

Parece que aqui surgiu um meio de poesia, mas não é, o que eu escrevi foi pedrada em janela de vidro já quebrada, o Pedro nunca foi bom com respostas e eu sou a dona das perguntas, e apesar dele querer fugir vez ou outra dessa nossa relação, é isso que acontecem nas relações, tem dias que a gente não aguenta o peso, tem dias que a gente não tem paciência, tem dias que a gente quer ser sozinho, tem dias que somos um pouco egoísta, tem dias que a gente quer outras companhias, tem dias que a gente não está amando a pessoa que a gente ama e tem dias que a gente quer terminar, mas sobretudo, todos os outros dias a gente quer a paz de estarmos em paz um com o outro!

Então não pensem que somos o casal mais legal que vocês conhecem porque nós não somos, não pensem que somos desconstruídos porque não somos, mas também não pensem que não há diálogo porque dos nossos medos, das nossas carapuças e de toda a nossa intimidade como ser humano, a gente se revela!

Pelos quatro anos de amor-coragem-medo-desejo-raiva-e-vontade, você é, sem dúvida, o GRANDE AMOR DA MINHA VIDA!

Com todo amor que essas datas clichês nos trazem, obrigada por me convidar a ir contigo para o desconhecido!

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